EDUCAÇÃO

O ENGAJAMENTO DOS PAIS E AS HABILIDADES SOCIOEMOCIONAIS


"O mundo que nós vamos deixar para os nossos filhos depende muito dos filhos que nós vamos deixar para esse mundo"

                                             *Mario Sérgio Cortella

*Embora não seja dele, essa frase é atribuída a ele segundo o próprio Cortella.

engajamento dos paisA educação brasileira vai mal. Acho que isso é consenso entre os educadores e o público em geral.

Estamos sempre discutindo, pesquisando e procurando as causas de tal situação. A famosa frase "a escola é do século 19; os professores, do século 20; e os alunos, do século 21", já se tornou um clássico nas discussões sobre educação.

Isso me parece um fato e, na minha opinião, deve ser alterado com urgência. Agora, é só essa a demanda que temos, hoje, para "reformar" nosso sistema educacional?
Basta atuar junto aos professores e às escolas e tudo se resolverá?

Podemos elencar alguns itens, para a tão desejada mudança, citados na maioria dos simpósios e discussões a respeito do tema dos quais participo todos os anos:
  • Melhoria na qualidade da formação dos professores
  • Capacitação docente nas TIC
  • Melhoria na remuneração dos educadores
  • Inovação nas metodologias pedagógicas das escolas
  • Maior adequação e direcionamento da academia na preparação dos professores que atuam no ensino básico

Pois bem, nos itens acima - além de outros na mesma linha - percebe-se um foco bem nítido nos professores e nas escolas. Mas, de uns tempos para cá, outros itens fundamentais estão entrando nessa pauta como, por exemplo, o maior engajamento dos pais na vida escolar de seus filhos.

A visão mais comum e difundida sobre essa temática é a seguinte: os pais da geração X - nascida nos anos 1960/1970 - (*) davam grande atenção aos filhos. Eles se preocupavam muito com a vida deles, incluindo a escolar. Esses pais eram - de modo geral - menos escolarizados e com situação socioeconômica menos privilegiada e, talvez, em parte por isso mesmo, mais atentos e preocupados com o futuro de sua prole.

Já os pais das gerações Y - nascida nos anos 1980/1990 - e Z - nascida em meados dos anos 1990/2000 - (*) mais escolarizados e com situação socioeconômica mais privilegiada - de modo geral - com relação aos seus progenitores - têm menos tempo disponível para ficar com seus filhos, pois trabalham e estudam mais e - de certo modo - "terceirizam" não só a escolarização, mas também a educação de seus filhos.

Termos como "terceirizam" - e suas variações - são um tanto quanto fortes, mas são muito citados em discussões sobre o tema por especialistas - veja, por exemplo, essa entrevista do Mário Sérgio Cortella à revista Crescer. Com isso, quem sofre são as escolas e os professores que têm de se "adequar" a essa nova situação e "se virar" para atuarem em áreas que, na verdade, são prerrogativas e obrigações dos pais.

Todos constatamos as alterações na estrutura familiar; as relações humanas e a sociedade - agora hiperconectada - também se alteraram. A relação tempo/espaço não é a mesma das gerações anteriores. As mudanças são inerentes ao tempo. Os avanços em todas as áreas são naturais e desejáveis para buscarmos sempre um mundo melhor para todos.

Mas, com todas essas mudanças de paradigmas, boa parte dos pais das gerações Y e Z não conseguiram - e não conseguem - equacionar bem o problema. Boa parte deles - como muitos dizem - "erraram a mão" ao, na prática, se distanciarem dos filhos que cresceram - ou estão crescendo -, nesses casos, sem valores, sem atenção e, até mesmo em algumas situações, sem afeto.

Com relação à educação, a questão chegou a um nível tão crítico no Brasil, que iniciativas nessa direção estão sendo tomadas para tentar melhorar o engajamento dos pais na vida escolar de seus filhos. Digo "no Brasil", pois, embora a geração de pais seja a mesma em qualquer parte do mundo, as culturas educacionais dos países são muito diferentes. O Brasil, como todos sabem, em boa medida, não tem a educação como parte de sua cultura.

Nessa linha, a Fundação Lemann divulgou um edital para o desenvolvimento de uma solução tecnológica para reverter esse quadro - do qual, inclusive, participei à época. Veja matéria a respeito clicando aqui. Matérias sobre essa temática são cada vez mais frequentes em veículos de educação/comunicação.

Muito se fala, atualmente, nesse quesito, nas habilidades socioemocionais. Elas estão se mostrando fundamentais para um melhor desempenho escolar dos alunos, mostram as pesquisas. Como resultado desses estudos, se concluiu que os pais têm de ser estimulados a fazer coisas simples como contar histórias para seus filhos ou desenhar a vizinhança num pedaço de papel. 

O curioso - e triste - é constatar como essas atividades lúdicas se perderam no tempo. A geração dos meus pais, de modo geral, fazia isso por gosto e não por necessidade. Ninguém precisava dizer isso a eles. Era uma coisa intuitiva, de pai para filho.

Portanto, o meu ponto é colocar, claramente, que o baixo desempenho de nossos alunos em várias provas nacionais e internacionais, e a situação atual de nossa educação, não é fruto apenas de questões relacionadas à formação de nossos professores e das escolas que não inovam, mas também - e muito - pelo não engajamento dos pais nas vidas escolares - e, em alguns casos, até do dia a dia - de seus filhos.

O primeiro passo a ser tomado pelos pais é reconhecer isso - muitos não reconhecem suas falhas - e tentar mudar esse comportamento para o bem de todos, inclusive deles mesmos. As relações entre pais e filhos, de modo geral, não andam bem e estão produzindo uma geração que está crescendo com vários problemas e conflitos que estão se manifestando de várias formas, como a violência contra os professores - que aumentou muito nos últimos anos -; o baixo rendimento escolar; a insegurança nos relacionamentos humanos e outros mais de acordo com pesquisas nessa área.

A conscientização dos pais, com consequente engajamento na vida de seus filhos, será um passo decisivo, importante e necessário, para a melhoria da educação. A postura - muito comum hoje em dia - de alguns pais de questionarem os professores e pouparem seus filhos, independentemente de quem está com a razão, deve ser pensada e refletida. Por que não cobrar quem tem de ser cobrado de modo justo e sensato? Por que sempre poupar os filhos de seus eventuais erros e não encará-los e corrigi-los?

Quando somos próximos aos nossos filhos podemos e devemos fazer isso. Eles vão gostar de se sentir "olhados" em seus atos, sejam eles certos ou errados. Afinal, a vida é feita de erros e acertos. Além disso, essa aproximação é mais do que necessária para uma vida mais saudável e laços afetivos mais fortes.

Filhos não querem ser poupados de seus erros e só ser elogiados. Eles querem ser amados e se sentirem úteis acima de tudo.

* De acordo com boa parte das classificações de especialistas


By Prof. Carlos Sanches

Conteúdo atualizado em 04.02.18

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